Entrevista sobre Disfunção Erétil – Com o Dr. César Câmara

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O artigo de hoje traz uma entrevista feito pelo Portal Doctor em parceria com o Cliquefarma com o Dr. César Câmara, urologista e andrologista de CRM 97363 / RQE 41803 sobre a Disfunção Erétil Grave. O Dr. César tem graduação e doutorado pela USP. É membro da Sociedade Brasileira de Urologia, da Sociedade Europeia de Urologia e da International Society for Sexual Medicine. Acompanhe a transcrição da entrevista agora mesmo! 

entrevista sobre disfuncao eretil 1

Entrevista sobre Disfunção Erétil Grave

Sheila Dias: E então Dr. O que é a Disfunção Erétil e quando ela é grave?

 

Dr. César: Nós consideramos a disfunção erétil grave, na verdade, não porque ela é uma emergência médica, não por isso, mas porque o paciente que tem esse tipo de disfunção, já passou pelos tratamentos com medicamentos, às vezes com aplicações na região do genital, às vezes até utilizando instrumentos que ajudam a manter uma relação sexual plena, mas ele não consegue mais. Então quando essas etapas todas passaram e falharam, nós podemos considerar que o homem tem uma disfunção erétil grave realmente, ou se ele tem junto com a disfunção erétil, algum tipo de deformidade no genital, alguma curvatura, que seria então a associação da disfunção erétil com uma outra doença chamada Doença de Peyronie, que é a curvatura do genital.

 

Sheila: Então, mas a Doença de Peyronie existe independente de estar ou não acometida do problema erétil. São situações que podem estar desassociadas uma da outra, separadas?

 

Dr. César: Sim, elas podem estar totalmente desassociadas, mas o paciente que tem Doença de Peyronie, se a gente fizer um cálculo estatístico, né, reunir esses indivíduos, juntar 100 homens, a gente vai encontrar que em 30% deles, a placa de Peyronie, gerou uma disfunção erétil, aí uma coisa vai piorando a outra. Porque durante o ato sexual, o pênis não fica tão rígido e ele acaba de dobrando bem no local da placa, a placa aumenta a inflamação e uma coisa vai piorando a outra. 

 

Sheila: Essa relação da curvatura e da consequência pra impotência grave, isso depende da idade, do tempo, é com o tempo que isso pode acontecer?

 

Dr. César: Se a gente considerar a Doença de Peyronie, de maneira geral, acontece apenas depois dos 40 anos e atinge mais ou menos 8% da população masculina, 18% (que parece um número grande), mas não é todo mundo que vai ter uma curvatura, uma deformidade, alguma coisa relevante. Mas quando o homem avança com a idade, fez algum procedimento pélvico, alguma cirurgia pra tumor de próstata, por exemplo, esse número acaba dobrando, às vezes até triplicando, então a gente chega até 18% de Doença de Peyronie, nos homens que sofreram algum tipo de cirurgia pélvica, por exemplo. E isso acaba complicando mais ainda uma disfunção que estaria ali presente neste momento ou um pouquinho mais adiante. 

Sheila: Mas pode acontecer na juventude? Em idades mais jovens? 

 

Dr. César: É incomum, mas pode acontecer sim. Às vezes a gente se surpreende com alguns pacientes muito jovens com Doença de Peyronie. E aí existe a associação da doença com as curvaturas congênitas, ou seja, o pênis, o órgão masculino já tem uma curvatura que surgiu na adolescência e essa curvatura, que geralmente é para baixo, ela acaba provocando uma lesão na parte contrária da curvatura, ou seja, podem surgir fibroses ou plaquinhas naquela região do lado contrário da curvatura. Então aí, o que acontece? O paciente além de ter uma curvatura congênita, ele pode desenvolver placas e fibrose na região dorsal. E isso pode ocasionar uma Doença de Peyronie ou curvatura em pacientes muito jovens. O que é raro, não é uma coisa frequente. 

 

Sheila: Que situação, né, gente?! Eu não tenho dúvida que tá todo mundo aí bastante curioso para entender como é que a gente caminha para a solução. Vamos falar um pouco pros jovens, um pouco pras pessoas já na 3ª idade, que é onde os casais enfrentam mais esse tipo de problema. Quais são as soluções adequadas e quais os casos?

 

Dr. César: Acho que o primeiro recado é, se a gente pensar em disfunção erétil, né? A gente chamava antigamente de “impotência”, hoje a gente chama de “Disfunção Sexual Erétil”. Pra melhorar a disfunção, pra prevenir ou pra evitar, a gente tem que pensar da seguinte forma: tudo o que faz bem para o coração, faz bem também para os corpos cavernosos do pênis. Tudo o que eu fizer para melhorar o coração vai me ajudar a não ter disfunção erétil. Então, caminhada, não engordar, não fumar, se tem diabetes, tratar o diabetes, se tem pressão alta, tratar. Tudo que ajudar o coração, vai ajudar também na manutenção das ereções. 

 

Sheila: Então a manutenção da atividade física, cuidado com o sedentarismo, com o fumo, com o excesso de bebida, com o excesso de peso, tudo isso daí é importante?

 

Dr. César: Tudo isso é importantíssimo. E depois, caso realmente, a disfunção surja e seja uma coisa que não foi resolvida com medicamentos, ou com as aplicações, ou com as ondas de choque, que é um tratamento novo que tá surgindo aí e é importantíssimo…

 

Sheila: Como são as ondas de choque?

 

Dr. César: São ondas de choque que são aplicadas no genital. Não é choque elétrico, são como se fossem pancadinhas, são pancadas fortes, na verdade, mas que não são dolorosas, podem incomodar um pouco. E elas fazem o que? Elas provocam uma lesão controlada do endotélio dos vasos. Então os vasos são inflamados e essa inflamação gera uma angiogênese. Ou seja, o tecido se regenera e aumenta a vascularização. Quando a gente indica de maneira correta esse procedimento, cerca de 70% dos pacientes respondem ao tratamento e pacientes que não respondiam mais aos medicamentos orais passam a responder, ou ficam independentes dele. Então essa é uma maneira verdadeira de recuperação das ereções. 

 

Sheila: Então a gente tem aí, vamos lá: têm algumas etapas, né?! Muitas etapas das medicações que todo mundo faz uso, medicações S.O.S. para uma situação (pontual), mas quando não dá mais jeito, você já tomou remédio, já tentou e não deu mais jeito, aí você parte pra ajuda de um especialista que vai, naturalmente, te acompanhar e ajudar a encontrar a melhor solução e aí esse seria o caminho?

 

Dr. César: Exatamente. Chegou nesse ponto final, que as outras coisas não se resolveram, ou às vezes, não são aceitas pelo paciente. Ele tem opção do que? Teria a opção de colocação das próteses penianas. 

entrevista sobre disfuncao eretil 2

 

Sheila: Próteses Penianas. Como funciona isso, Dr.?

 

Dr. César: Todo mundo imagina, ou todo mundo, não. Mas um número grande dos pacientes acha que a prótese peniana é uma coisa externa, que se coloca uma prótese aqui de plástico e não é nada disso! A prótese peniana é um dispositivo que fica totalmente interno, não tem nada por fora, não se vê por fora da região genital. 

 

Sheila: Quer dizer, a pessoa pode usar sua roupa normalmente, não vai acontecer (nada)?

 

Dr. César: Pode usar normalmente e na hora da relação ele não tem que vestir nada, colocar nada especial. É um mecanismo totalmente interno. O genital continua quente, ele não fica frio, gelado. A sensibilidade se mantém também. A parte do prazer, o orgasmo, a ejaculação, tudo isso se mantém, é normal. A prótese não modifica isso.

 

Sheila: Quer dizer, a saúde de uma maneira geral que é preservada, né? Não tem nenhum tipo de dano nesse sentido?

 

Dr. César: Preservada e em alguns casos até melhorada. Por que? Porque o mecanismo melhora a autoestima, a auto-confiança. E já existe também, uma coisa bem comprovada de modo científico, que os pacientes que estão em processo de depressão leve ou estão em tratamento de depressão e tem essa condição associada também, quando nós tratamos a disfunção erétil grave instalando as próteses penianas, existe uma correlação com a melhora no quadro de depressão. 

 

Sheila: Ah, eu não tenho dúvida, né?! Muitos casais agora que estão nos assistindo e que vão, sem dúvida nenhuma, analisar essa possibilidade, mas eu queria saber uma coisa que eu acho que tá todo mundo se perguntando também: E se a pessoa quiser retirar? Não quiser mais?

 

Dr. César: Então, a prótese…existem 2 tipos de próteses: a que a gente chama de semi rígidas, em que o genital fica sempre rígido e as infláveis, que deixam o pênis flácido e rígido quando o homem quiser. Independente destes tipos de próteses, ela é um tratamento cirúrgico final. É claro que a prótese pode ser retirada, mas o homem não volta a ter as ereções. Ele pode retirar a prótese, mas se ele fizer isso, não terá mais nenhum tipo de ereção. Se ele tinha algum tipo de ereção antes, algum resíduo, não terá mais.

 

Sheila: Aí anula 100% porque mexeu, alterou…Então, é uma decisão que eu acho que deve ser compartilhada em família, tomar uma decisão, para exatamente partir para um procedimento desses…E é seguro, né Dr.?

 

Dr. César: É um procedimento seguro, né, óbvio que, como qualquer procedimento pode ter problema, algumas complicações também. Eu costumo falar que qualquer procedimento que mexe com incisão de pele complica entre 5 e 15%, em geral, são complicações bem simples, né, que a gente resolve. Um ponto que às vezes abre um pouquinho, um pouco de hematoma que demora mais…

 

Sheila: Depende de internação? É doloroso? Como que é a cirurgia?

 

Dr. César: Então, a cirurgia. Se a gente fizer, por exemplo, à tarde, o paciente dorme no hospital e no outro dia já vai embora pra casa. Tanto as cirurgias pra tratamento de disfunção erétil isolada quanto pra pacientes que precisam da reconstrução do genital pra recuperação de tamanho, de espessura, porque ele sofreu os efeitos da Doença de Peyronie…

 

Sheila: Deixa eu entender uma coisa…Muitas pessoas que estão nos ouvindo agora pode ter o problema do tamanho e pensam que através desse procedimento cirúrgico podem vir a resolver o problema. Isso é fato? Como é isso?

 

Dr. César: Essa é sempre uma questão importante da conversa que a gente tem no consultório. Muitos pacientes vêm porque eles querem aumentar o tamanho do genital…Qual que é a resposta que a gente tem pra isso? A gente tem que responder sempre dessa maneira: Não é possível aumentar o tamanho do pênis, o que a gente consegue fazer é recuperar uma parte do que foi perdido. Então, se o que foi perdido realmente tá presente na haste peniana, nós conseguimos fazer alguns procedimentos de liberação desses tecidos…

 

Sheila: Pra um retorno à condição inicial quando havia ereção? Porque depois pode ser um processo de atrofia e você consegue fazer a recolocação de uma situação inicial. Já é muito bom, não é, Dr.?

 

Dr. César: Exatamente! Já é muito bom! Pelo menos uma parte do tamanho perdido a gente consegue recuperar e às vezes se perde muito do tamanho com Doença de Peyronie e se perde muito tamanho com as cirurgias pélvicas e o diabetes também. Então em alguns casos a gente consegue recuperar, a média de recuperação, isso publicado em literatura é de mais ou menos 2 a 2,5 cm. Variando de 1 até 4 cm. E isso depende muito do estado que os tecidos estão, do tempo de doença, e da condição clínica do paciente. Mas é recuperação, não é aumento!

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Sheila: De um dia pro outro a pessoa já vai embora pra casa? 

 

Dr. César: Sim, de um dia pro outro já pode ir para casa. O procedimento tem sempre que ser feito com uma anestesia raquidiana para o pós operatório ser tranquilo, ser suave…

Sheila: Ah, é bom…A raquidiana a pessoa participa, tá lúcida e não sente nada, né?

 

Dr. César: Não sente nada e a gente dá um remedinho também pra ele relaxar e dormir durante a cirurgia…

 

Sheila: Dar aquela dormidinha, que bom! Porque não mexe com o sistema nervoso central…

 

Dr. César: Esses procedimentos podem ser feitos até com anestesia local, mas não vale a pena porque o dia seguinte é que complica. Com o rack é tudo mais tranquilo, tudo mais suave.  

 

Você pode assistir à entrevista na íntegra aqui:

 

 

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Referências bibliográficas

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