O artigo de hoje irá falar sobre uma condição médica extremamente rara chamada Urticária Aquagênica. Ela nada mais é do que alergia à água. Você já ouviu falar? Acompanhe este artigo até o fim para se informar!
Conhecendo a história de Alexandra Allen
Alexandra Allen, uma americana de 20 anos, é um dos menos de 100 casos de que se tem registro dessa condição e até hoje não se descobriu nenhuma cura para isso. Na primeira vez em que a garota teve uma reação à água, ela tinha 12 anos, estava no meio das férias de verão e havia passado o dia quase todo nadando em uma piscina.
Quando voltou para casa, estava coberta de erupções cutâneas severas por todo o seu corpo, mas, quando foi levada para o hospital, todos acreditavam que ela teve alguma reação aos produtos químicos usados na água da piscina.
As urticárias que apareciam em seu corpo sempre que se molhava continuaram um mistério por cerca de dois anos. Um dia ela estava lendo na internet uma lista sobre as dez doenças mais estranhas já registradas, e todos os sintomas de alergia à água a descreviam perfeitamente.
Ela foi com os pais até um hospital e dois dermatologistas fizeram um teste simples: molharam um pano com água pura e o encostaram no braço dela, que vinte minutos depois ficou coberto de marcas vermelhas.
Em uma entrevista concedida ao site New York Magazine, ela contou um pouco sobre como é viver com uma condição tão rara. Para começar, ela explica que não se trata de uma alergia, mas sim de uma doença dermatológica. Todos os seres humanos produzem naturalmente óleos que ajudam na manutenção da pele. No caso de quem tem essa doença, esses mesmos óleos se tornam ácidos quando entram em contato com água, seja ela pura ou não.
A jovem descreve a sensação de entrar em contato com água como se algo estivesse lixando a sua pele de forma violenta. O primeiro registro de “alergia à água” de que se tem notícia data de 1963, e de lá pra cá ninguém conseguiu desvendar que fatores levam o organismo de uma pessoa a desenvolver a condição. Até hoje os poucos dados obtidos indicam apenas que isso é mais comum entre mulheres do que entre homens, normalmente se manifestando durante a puberdade.
Como ela adaptou sua vida para conviver com a doença
Desde que descobriu possuir urticária aquagênica, Alexandra precisou adaptar toda a sua vida para sofrer o mínimo possível com suas erupções. Ela não come carne ou laticínios – a quebra de proteínas faz com que o suor tenha um odor mais forte – e só toma um banho por semana com água fria, que causa menos reações do que a água quente e que dura em média dois minutos. O resto dos dias, ela se higieniza com produtos que não levam água na composição, pois mesmo isso afeta a sua pele.
Ela lava as mãos com água fria, corre durante a noite para transpirar o mínimo possível e até mesmo suas lágrimas fazem com que a pele de seu rosto se irrite. Mesmo assim, a garota consegue levar uma vida quase normal. O mais inconveniente é ter que levar um casaco sempre que sai, mesmo que o dia esteja quente, para cobrir as suas erupções cutâneas, além de carregar sempre consigo uma EpiPen – dispositivo que contém uma dose de anti-histamínico, substância que reduz os efeitos causados por alergias.
Certa vez ela estava em uma festa quando de repente alguém apareceu com balões cheios de água e pistolas d’água. A menina contou como foi hilário de repente perceber todos os seus amigos a olhando com uma expressão de pânico. Ela descreveu a situação como um momento único de sua vida: contar com uma comitiva para protegê-la de pistolas d’água. Mas difícil mesmo é encontrar o momento certo para contar que é “alérgica” à água durante um encontro.
Mas afinal, do que se trata a urticária aquagênica?
Como vimos anteriormente, trata-se de uma doença rara na qual a pele desenvolve manchas vermelhas e irritadas pouco tempo após o contato da pele com a água, independente das sua temperatura ou composição. Assim, pessoas com esta condição geralmente apresentam alergia a qualquer tipo de água, seja do mar, da piscina, do suor, quente, fria ou até a filtrada para beber, por exemplo.
Também pudemos observar que, geralmente, este tipo de alergia é mais frequente em mulheres, mas pode acontecer também em homens e os primeiros sintomas normalmente aparecem na adolescência.
Uma vez que ainda não se conhece a causa desta doença, também não existe um tratamento para a curar. Porém, o dermatologista pode aconselhar o uso de algumas técnicas, como a exposição aos raios UV ou a ingestão de anti-histamínicos para aliviar o desconforto.
Quais os principais sintomas?
Os sintomas mais comuns em caso de alergia na água incluem:
- Manchas vermelhas na pele que surgem após entrar em contato com água;
- Coceira ou sensação de queimação na pele;
- Manchas inchadas na pele sem vermelhidão.
Normalmente estes sinais surgem em locais junto da cabeça, como o pescoço, os braços ou o peito, mas também podem se espalhar por todo o corpo, dependendo da região que esteve em contato com a água. Estas manchas tendem a desaparecer cerca de 30 a 60 minutos após se remover o contato com a água.
Em situações mais graves, este tipo de alergia também pode causar um choque anafilático com sintomas como sensação de falta de ar, chiado ao respirar, sensação de bola na garganta ou rosto inchado, por exemplo. Nestes casos, deve-se ir imediatamente ao hospital para iniciar o tratamento e evitar ficar sem ar.
O que é choque anafilático?
O choque anafilático é uma grave reação alérgica que pode levar ao fechamento da garganta, impedindo a respiração adequada e podendo levar à morte em poucos minutos. Dessa forma, ele deve ser tratado o mais rápido possível.
Os primeiros socorros neste caso são importantes para garantir as chances de sobrevivência da vítima e incluem:
- Chamar uma ambulância, ligando para o número 192 ou levar a pessoa imediatamente para o pronto-socorro;
- Observar se a pessoa está consciente e respirando. Se a pessoa desmaiar e deixar de respirar, deve-se iniciar a massagem cardíaca. Veja aqui como fazer corretamente.
- Se estiver respirando, deve-se deitá-la e levantar as suas pernas para facilitar a circulação sanguínea.
Além disso, deve-se procurar se a pessoa tem alguma seringa de adrenalina na roupa ou bolsa, por exemplo, e injetá-la na pele o mais rápido possível. Normalmente, pessoas com alergia alimentares, que têm grande risco de ter um choque anafilático, costumam transportar este tipo de injeções para serem usadas em situações de emergência.
Já no caso de o choque ter acontecido após uma picada de inseto ou cobra, deve-se retirar o ferrão do animal da pele, aplicar gelo no local para diminuir a disseminação do veneno.
Como reconhecer um choque anafilático
Os primeiros sintomas do choque anafilático são:
- Aumento dos batimentos cardíacos;
- Dificuldade para respirar e presença de tosse e chiado no peito;
- Dor no estômago;
- Náuseas e vômitos;
- Inchaço nos lábios, na língua ou na garganta;
- Pele pálida e suor frio;
- Coceira no corpo;
- Tontura e desmaio;
- Parada cardíaca.
Esses sintomas podem surgir segundos ou horas após o contato com a substância que causa a reação alérgica, que normalmente é um medicamento, o veneno de animais como abelhas e marimbondos, alimentos como camarão e amendoim, e luvas, camisinha ou outros objetos feitos de látex. Mas em casos raros, como o deste artigo, o simples contato com água pode causar todas essas sensações e até mesmo levar à morte.
O que fazer para não ter choque anafilático?
A melhor forma de prevenir o choque anafilático é não ter contato com a substância que causa a alergia, evitando consumir camarão e frutos do mar ou o contato com objetos feitos de látex, por exemplo.
Outra medida de prevenção é pedir ao médico para prescrever um kit de tratamento do choque, e aprender a aplicar a injeção de adrenalina em si mesmo, caso necessário.
Além disso, deve-se avisar a amigos e familiares sobre a alergia e ensiná-los a usar o kit de emergência, sendo também importante usar em locais públicos e aglomerados uma pulseira que informa sobre a alergia, para facilitar os primeiros socorros.
O Ministério da Saúde tem uma página com dicas de como proceder em casos de alergia, você pode se informar por lá também.
Como é feito o tratamento da alergia à água no hospital?
No hospital, o paciente em choque anafilático irá rapidamente ser tratado com máscara de oxigênio para facilitar a respiração e remédio na veia com adrenalina, que irá atuar no organismo diminuindo a reação alérgica e normalizando as sua funções vitais da pessoa.
Como confirmar o diagnóstico?
Como é o diagnóstico para alergia à água
O diagnóstico é baseado na história clínica de recorrência de urticária após a exposição à água com teste de provocação com água positivo. Este teste consiste na aplicação de tecido umedecido com água à temperatura ambiente por 20 minutos na pele. Se a urticária aparece após este período o teste é considerado positivo.
É preciso diferenciar a urticária aquagênica da urticária ao calor, ao frio, por pressão e colinérgica, mas pode acontecer a associação de alergia à água com qualquer outro tipo de urticária física.
O diagnóstico da alergia à água deve sempre ser feito por um dermatologista pois é necessário estudar todo o histórico clínico, assim como o tipo de sintomas.
Como vimos, existe um teste que pode ser feito pelo médico para identificar se a causa das manchas é realmente a água. Nesse teste, o dermatologista mergulha uma gaze em água a 35ºC e coloca-a numa região do peito. Após esses minutos, avalia se surgiram manchas no local e caso tenham surgido, avalia o tipo de mancha e os sintomas envolvidos, para chegar no diagnóstico correto.
Como tratá-la?
Embora não exista uma cura para a alergia à água, existem algumas formas de tratamento que podem ser indicadas pelo dermatologista para aliviar o desconforto:
- Anti-histamínicos, como Cetirizina ou Hidroxizina: diminuem os níveis de histamina no corpo, que é a substância responsável pelo surgimento dos sintomas de alergia e, por isso, podem ser usados após o contato com a água para aliviar o desconforto;
- Anticolinérgicos, como a Escopolamina: também parecem reduzir os sintomas quando feito uso antes da exposição;
- Cremes de barreira ou óleos: mais indicado para pessoas que praticam atividades físicas ou que necessitem entrar em contato com água, para aplicar antes da exposição, aliviando o desconforto.
O tratamento mais usual é a utilização de anti-histamínicos de segunda geração, que são considerados não sedantes, portanto não provocam sono, e com período de duração de ação maior que os de primeira geração. Pode ser utilizada aplicação de emulsões de óleo em água e petrolato em creme para banho. Fototerapia também pode ser utilizada como terapêutica.
Já nos casos mais graves, em que normalmente surgem sintomas de um choque anafilático, o médico pode também receitar uma caneta de epinefrina, como falamos anteriormente, que deve ser sempre transportada numa bolsa para que possa ser utilizada em situações de emergência.
Cuidados para evitar a alergia
A melhor forma de evitar o surgimento dos sintomas de alergia à água é evitando o contato da pele com a água, no entanto, isso não é sempre possível, especialmente quando é preciso tomar banho ou beber água.
Assim, algumas técnicas que podem ajudar incluem:
- Não tomar banho no mar ou na piscina;
- Tomar apenas 1 a 2 banhos por semana, por menos de 1 minuto;
- Evitar fazer exercício físico intenso que provoque muito suor;
- Beber água utilizando um canudo para evitar o contato da água com os lábios.
Além disso, passar cremes para pele extra seca, como Nívea ou Vasenol, assim como óleo de amêndoas doces ou vaselina também pode ajudar a aliviar os sintomas, já que criam uma barreira entre a pele e a água, especialmente durante períodos de chuva ou quando é difícil evitar o contato acidental com a água.
Por que acontece a alergia?
Causas da alergia à água
A primeira hipótese da causa desta alergia surgiu em 1960, seria a de que a água reagiria com as glândulas sebáceas formando uma substância tóxica que estimularia a degranulação do mastócito com liberação de histamina, o que desencadearia a formação das lesões.
Em 1981 uma nova hipótese sugeriria que uma repentina mudança na pressão osmótica dos folículos pilosos, conduziria a um aumento passivo da difusão da água. Essa mudança da pressão resultaria em urticária.
Hipótese recente do autor Gallo e colaboradores seria a da existência de antígenos solúveis em água na epiderme que dissolvem-se e difundem-se através da derme resultando em liberação de histamina. Mas a hipótese mais recente de Luong e Nguyen de 1998 sugere um mecanismo completamente independente da liberação de histamina causando urticária.
Como vimos até agora, ainda não existe uma causa definida para o surgimento da alergia à água, porém, os cientistas apontam 2 possíveis teorias.
A primeira é de que a alergia é provocada, na verdade, por substâncias que estão dissolvidas na água e que acabam entrando no organismo através dos poros e causando uma resposta exagerada do sistema imune. No entanto, a outra teoria diz que a alergia surge porque, nas pessoas afetadas, o contato das moléculas de água com a pele cria uma substância tóxica que leva ao surgimento das manchas.
Essa “alergia a água” aparece especialmente no tronco e membros superiores, poupando palmas das mãos e plantas dos pés. Raramente os pacientes apresentam sintomas sistêmicos, como chiado no peito ou falta de ar. Quando esses sintomas aparecem, a urticária parece ser mais dramática, apresentando também grandes placas avermelhadas no corpo e edema.
Quem corre mais risco de apresentar o quadro?
Como vimos, a prevalência da alergia a água, ou urticária aquagênica, é maior no sexo feminino, especialmente durante a puberdade e pós-puberdade. Raramente tem sido associada com doenças sistêmicas como infecções por HIV e carcinoma de tireoide. Há relatos de coexistência com a síndrome de Bernard-Soulier (doença hemorrágica hereditária), o que sugere a possibilidade de associação com alteração genética, mas nenhum gene específico foi identificado até o momento. Vale lembrar que se trata de uma doença muito rara com número de casos reduzidos descritos na literatura médica.
A alergia pode acontecer em qualquer contato com água?
Há pacientes que apresentam reação dependendo da salinidade da água: ou seja, podem apresentar reação com água da torneira, neve, água doce, porém, podem nadar na água do mar sem apresentar urticária. Outros pacientes podem apresentar urticária somente em contato com a água salgada.
Caso uma pessoa tome chuva ou banho, pode apresentar urticária, porém com o estabelecimento de um tratamento, os sintomas podem ser controlados.
Caso as pessoas bebam água, não irá ocorrer o desenvolvimento de urticária. Essa doença só acontece após o contato da água com a pele e não com as mucosas da boca e trato digestivo.
Nós do Cliquefarma estamos a postos caso haja qualquer dúvida sobre essa rara condição. Deixe abaixo seu comentário que iremos interagir com você!